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HÁ 35 ANOS, BRASILEIROS ACORDAVAM EM PÂNICO, SEM DINHEIRO NOS BANCOS, POR CONTA DO PLANO COLLOR

Foto do escritor: GUIA MIRAI GUIA MIRAI

Na noite de 15 de março de 1990, os brasileiros foram dormir sem saber que, ao acordarem, suas vidas financeiras seriam drasticamente transformadas. Na manhã seguinte, em um pronunciamento transmitido para todo o país, o recém-empossado presidente Fernando Collor de Mello anunciou o Plano Collor, um pacote econômico que tinha como objetivo controlar a hiperinflação que assolava o Brasil, mas que acabou levando milhares de pessoas à ruína financeira, causando falências, desespero e até tragédias pessoais.


Nos anos 1980, o Brasil enfrentava uma crise econômica severa, marcada por uma hiperinflação que corroía o poder de compra da população. A inflação mensal ultrapassava 80% em alguns períodos, o que gerava instabilidade e incerteza. O governo José Sarney (1985–1990) tentou controlar a situação com os planos Cruzado, Bresser e Verão, mas nenhum conseguiu conter o avanço da inflação de maneira sustentável.


Foi nesse cenário que Fernando Collor de Mello foi eleito em 1989, nas primeiras eleições diretas para presidente após o regime militar (1964–1985). Collor prometeu modernizar o país, cortar gastos públicos e combater a corrupção e a inflação com "remédios amargos", mas necessários para salvar a economia brasileira.


No dia 16 de março de 1990, menos de 24 horas após assumir a presidência, Collor apareceu na televisão ao lado de sua ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, para anunciar o Plano Collor. A principal e mais traumática medida foi o confisco da poupança e das contas correntes.


O governo determinou que todos os valores depositados em contas bancárias, cadernetas de poupança e fundos de investimento acima de 50 mil cruzados novos (cerca de US$ 1.200 na época) seriam congelados por 18 meses. O valor excedente só poderia ser retirado em parcelas mensais, corrigido pela inflação. O argumento do governo era que essa medida retiraria o excesso de moeda em circulação, reduzindo a demanda e, consequentemente, a inflação.


Além disso, o plano previa:


- Adoção de uma nova moeda, o cruzeiro, em substituição ao cruzado novo.

- Bloqueio do crédito e aumento das taxas de juros.

- Congelamento de preços e salários.

- Privatização de empresas estatais e abertura do mercado brasileiro a produtos estrangeiros.


O impacto foi devastador. Milhares de brasileiros, que até então acreditavam que seus recursos estavam seguros nos bancos, acordaram para descobrir que seu dinheiro estava bloqueado. Pessoas que dependiam de seus rendimentos para pagar contas, fornecedores e até funcionários ficaram sem recursos imediatos.


Empresas quebraram em massa por falta de capital de giro, o consumo despencou e o desemprego aumentou rapidamente. Pequenos e médios empresários foram os mais afetados, e muitas famílias perderam economias de toda uma vida.


A reação popular foi de revolta e incredulidade. Manifestações começaram a surgir em várias partes do país. Casos de depressão, colapsos nervosos e até suicídios foram registrados em decorrência das perdas financeiras.


Embora o Plano Collor tenha reduzido a inflação temporariamente, os efeitos foram de curta duração. Em poucos meses, a inflação voltou a subir, atingindo 20% ao mês em meados de 1991. O governo tentou implementar um novo pacote, o Plano Collor II, em 1991, mas sem sucesso.


A crise econômica levou ao enfraquecimento político de Collor. Em 1992, denúncias de corrupção envolvendo o esquema de Paulo César Farias (PC Farias), tesoureiro da campanha de Collor, levaram à abertura de um processo de impeachment. Em 29 de dezembro de 1992, Collor renunciou ao cargo para evitar a cassação, mas o Senado prosseguiu com o julgamento e o condenou à perda dos direitos políticos por oito anos.


O Plano Collor é lembrado até hoje como um dos capítulos mais traumáticos da história econômica brasileira. O confisco da poupança deixou marcas profundas na confiança dos brasileiros no sistema bancário e no governo.


A hiperinflação só seria efetivamente controlada em 1994, com a implementação do Plano Real, durante o governo de Itamar Franco e sob a liderança de Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda.


O episódio do Plano Collor ficou marcado como um dos maiores traumas econômicos do Brasil, lembrado como um período de incerteza, frustração e perdas irreparáveis para milhões de brasileiros.


GUIA MIRAI

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